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Setembro Dourado, mês da conscientização sobre o Câncer Infantil (Parte II)

Setembro Dourado, mês da conscientização sobre o Câncer Infantil (Parte II)
Setembro Dourado, mês da conscientização sobre o Câncer Infantil (Parte II)

O câncer infantil envolve um conjunto de doenças complexas e desafiadoras que afeta um número significativo de crianças e adolescentes.

No Brasil, cerca de 12 mil novos casos de câncer infantil são registrados a cada ano. Essas doenças podem ser caracterizadas pela proliferação descontrolada de células anormais em diferentes partes do corpo que não obedecem sua função.

Ao contrário do câncer em adultos, que muitas vezes está associado a fatores como envelhecimento, tabagismo e dietas inadequadas, o câncer infantil não tem uma ligação direta com esses fatores ambientais.

Na maioria dos casos, a origem do câncer em crianças e adolescentes ainda é desconhecida, podendo estar correlacionado a predisposição genética o   mutações genéticas ocasionais.

Reconhecendo os Sintomas

Identificar o câncer infantil pode ser desafiador, pois muitos sintomas se assemelham a condições mais comuns em crianças. É importante que os pais fiquem atentos a sinais como:

Perda de peso inexplicável: Se a criança está perdendo peso sem motivo aparente.

Dores de cabeça persistentes: Principalmente se acompanhadas de vômitos matinais.

Inchaço ou dor persistente: Especialmente nas articulações ou ossos.

Massa abdominal ou em outras áreas: Pode indicar tumores como o de Wilms ou neuroblastoma.

Mudanças na visão: Como uma aparência esbranquiçada na pupila, ou estrabismo.

Febres frequentes: Sem causa aparente, que não são explicadas por infecções comuns.

Hematomas e sangramentos: Inexplicáveis e repentinos.

Palidez e cansaço prolongado: Que não melhoram com descanso.

Se você notar qualquer um desses sinais, é crucial levar a criança ao pediatra para uma avaliação detalhada, sendo muito importante manter acompanhamento regular com o pediatra para estas possíveis investigações.  O diagnóstico precoce é essencial, pois aumenta significativamente as chances de sucesso no tratamento.

Principais Tipos de Câncer Infantil

Tumor de Wilms

O tumor de Wilms é um tipo raro de câncer de rim que afeta principalmente crianças entre 2 e 5 anos de idade. Apesar de raro, é o tipo mais comum de câncer renal infantil. A boa notícia é que, quando diagnosticado precocemente, o tumor de Wilms tem até 95% de chances de cura. Os problemas que levam ao tumor de Wilms começam antes mesmo do nascimento,quando as células dos rins não são totalmente amadurecidas e continuam se multiplicando rapidamente, formando o tumor. Na maioria dos casos, o tumor aparece em apenas um rim, e é muito raro que ocorra em ambos os rins ou mais de um tumor no mesmo rim. Como ele costuma crescer sem causar sintomas no início, o diagnóstico muitas vezes acontece quando o tumor já está grande, e pode até se espalhar para outras partes do corpo, como os pulmões.

Sintomas do Tumor de Wilms

Como o tumor de Wilms pode crescer muito antes de ser descoberto, o sintoma mais comum é o inchaço ou o aumento do abdome. Em alguns casos, é possível até sentir o tumor como uma massa na barriga da criança.

Outros sintomas, que são mais raros, incluem:

- Sangue na urina , Pressão alta , Dor de estômago , Febre recorrente , Perda de apetite, náuseas , Prisão de ventre, Dificuldade para respirar

 

Fatores de Risco

Ter fatores de risco não significa que a criança vai necessariamente desenvolver o tumor de Wilms, mas eles podem aumentar a chance. Ainda não se sabe exatamente o que causa esse câncer, mas alguns fatores de risco conhecidos são:

- Idade: mais comum entre 3 e 5 anos.

- Sexo: afeta mais as meninas do que os meninos.

- Doenças Congênitas Raras: certas síndromes genéticas, como WAGR, Beckwith-Wiedemann, Denys-Drash, e a trissomia do cromossomo 18, aumentam o risco.

- Síndromes Genéticas: crianças com a síndrome de Li-Fraumeni também têm maior chance de desenvolver o tumor de Wilms.

Retinoblastoma

O retinoblastoma é o tipo mais comum de câncer nos olhos em crianças, sendo aproximadamente 3% dos casos de câncer infantil. Ele pode aparecer de duas formas: esporádica, quando a doença surge por acaso, ou hereditária, quando é causada por uma mutação genética transmitida de pais para filhos.

Entre 60% e 75% dos casos de retinoblastoma são esporádicos e costuma acontecer em crianças com mais de 1 ano de idade. Os casos hereditários, causados por uma mutação no gene RB1, que prevene o crescimento descontrolado das células, então quando esse gene não funciona adequadamente leva a formação deste câncer e geralmente se desenvolve antes da criança completar 1 ano.

O retinoblastoma pode aparecer de três formas:

- Retinoblastoma Unilateral: afeta apenas um olho e é o mais comum, correspondendo a 60% a 75% dos casos. A maioria desses casos (85%) é esporádica, mas alguns podem ser hereditários.

- Retinoblastoma Bilateral: afeta os dois olhos e, na maioria das vezes, é hereditário. Esse tipo é geralmente diagnosticado mais cedo.

- PNET: ocorre em crianças com a forma hereditária bilateral e envolve um tumor adicional no cérebro. Esse tipo é muito raro. 

Sintomas do Retinoblastoma:

Como o retinoblastoma afeta o olho, os primeiros sinais surgem nessa região. Os principais sintomas incluem:

- “Olho de gato" (leucocoria): um reflexo branco ou opaco na pupila, visível em fotos tiradas com flash. Esse é um sinal importante que deve ser avaliado por um oftalmologista o mais rápido possível.

- Estrabismo (desvio nos olhos) , diminuição da visão em um olho,  Dor no olho,  Globo ocular maior do que o normal.

Fatores de Risco

Existem poucos fatores de risco conhecidos para o retinoblastoma, mas os principais são: - Idade: o retinoblastoma é mais comum em crianças com menos de 3 anos.

- Hereditariedade: cerca de um terço dos casos é causado por uma mutação no gene RB1. Em 25% desses casos, a mutação é herdada de um dos pais. 

 

Osteossarcoma

O osteossarcoma é o tipo de câncer ósseo mais comum em crianças e adolescentes, especialmente durante a adolescência, quando os ossos estão em rápido crescimento. Ele atinge principalmente os ossos longos, como o fêmur (osso da coxa), e ocorre na região próxima ao joelho.

As células do osteossarcoma parecem células primitivas, que ajudam a formar os ossos, mas, o tecido ósseo que elas produzem não é tão forte quanto o de um osso saudável. Embora o tumor pareça estar restrito ao osso no momento do diagnóstico, ele frequentemente espalha micrometástases para os pulmões. Essas metástases são tão pequenas que não aparecem em exames como tomografia ou ressonância magnética.

Os osteossarcomas são classificados em três grupos, de acordo com a velocidade com que crescem e a aparência das células:

- Alto grau: Crescem rapidamente e suas células são muito diferentes das normais. A maioria dos osteossarcomas em crianças e adolescentes é de alto grau. 

- Grau intermediário: São menos comuns e tratados de forma semelhante aos tumores de baixo grau.

- Baixo grau: Crescem lentamente, e as células se parecem mais com as células ósseas normais. Exemplos incluem o parosteal e o intraósseo bem diferenciado.

Os sintomas variam de pessoa para pessoa, mas geralmente começam com dor nos ossos ou nas articulações. Outros sinais incluem:

- Dor: inicialmente intermitente, mas que piora com o tempo e se torna constante, especialmente à noite.

- Nódulo, inchaço ou sensibilidade próximo a uma articulação, com a área ficando quente e vermelha.

- Andar mancando.

- Febre, fadiga e perda de peso inexplicável.

- Fraturas após pequenos acidentes ou atividades normais, devido ao enfraquecimento do osso,  Anemia.

 

 Fatores de Risco

Ainda não se sabe exatamente o que causa o osteossarcoma, mas alguns fatores aumentam o risco:

- Idade: O osteossarcoma é mais comum entre 10 e 30 anos, especialmente durante os estirões de crescimento.

- Altura: Crianças mais altas que a média têm maior risco.

- Sexo: Meninos são mais afetados que meninas.

- Radioterapia prévia: Crianças que receberam tratamento com radiação têm um risco maior de desenvolver osteossarcoma.

- Doenças ósseas: como a doença de Paget.

- Síndromes familiares de câncer, como a síndrome de Li-Fraumeni e a mutação do gene RB1, que também está relacionada ao retinoblastoma (câncer ocular).

- Doenças genéticas: como as síndromes de Bloom e Werner.

 

 Sarcoma de Ewing:

O sarcoma de Ewing é um tipo de câncer que afeta principalmente os ossos, sendo mais comum em adolescentes. Ele geralmente aparece nos ossos da pelve (quadril), tórax (costelas ou omoplatas) e nas coxas, especialmente nos ossos longos, como o fêmur (na perna) e o úmero (no braço).

Esse câncer é causado por mutações genéticas que acontecem após o nascimento.

O sarcoma de Ewing pode ser dividido em três tipos principais, todos com a mesma anomalia genética:

- Sarcoma de Ewing dos ossos: o mais comum, afeta os ossos.

- Sarcoma de Ewing extraósseo: cresce nos tecidos moles ao redor dos ossos, como cartilagens.

- Tumor Neuroectodérmico Primitivo Periférico (PPNET): extremamente raro, combina características dos dois tipos anteriores.

Os sintomas variam, mas o primeiro sinal costuma ser dor no local onde está o tumor, que piora durante a noite ou ao fazer atividades físicas. Outros sintomas incluem:

- Nódulo, inchaço ou sensibilidade no local do tumor, Febre, Fraturas após pequenos acidentes ou atividades normais, pois o osso pode estar enfraquecido, Fadiga, andar mancando ou perda de peso inexplicável, Fraqueza, falta de sensibilidade ou até paralisia nos braços ou pernas, se o tumor estiver próximo da coluna vertebral, Falta de ar, se o tumor se espalhou para os pulmões.

Fatores de Risco

Ainda não se sabe exatamente o que causa o sarcoma de Ewing, mas alguns fatores aumentam o risco de desenvolvê-lo:

- Sexo: é mais comum em meninos.

- Idade: afeta principalmente adolescentes.

 

 Prognóstico

Cerca de 60% dos pacientes com sarcoma de Ewing sobrevivem no longo prazo, dependendo do estágio em que o câncer é diagnosticado e da resposta ao tratamento. 

 

Conclusão

Conforme já comentado em Post anterior embora o câncer infantil seja uma doença rara e desafiadora, os avanços no tratamento têm proporcionado uma taxa de cura e sobrevida cada vez maior e sempre com mais qualidade. A detecção precoce e o tratamento especializado são cruciais para garantir as melhores chances de recuperação. Ao estar atento aos sinais e procurar ajuda médica rapidamente, você pode fazer uma grande diferença na vida de uma criança diagnosticada com câncer. Além disso, o suporte contínuo à família e à criança é vital para enfrentar essa difícil jornada e assegurar a melhor qualidade de vida possível para o futuro.

Texto elaborado por Dr. Lucas Augusto Monetta Silva, médico pediatra, residente de oncopediatria e membro da equipe BIO SANA’S, Hospital São Camilo e IBCC Oncologia de Transplante de Medula Óssea.

 

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