Falciforme: doença hereditária pode causar lesões na pele
No dia Mundial de Conscientização da Doença Falciforme, veja mais informações sobre as lesões com as quais os portadores da doença têm de conviver.
Falciforme é um grupo de doenças hereditárias que se caracterizam pela alteração nos glóbulos vermelhos, as células responsáveis por carregar oxigênio pelo corpo. Essas células sofrem alterações na molécula de hemoglobina e seu formato fica parecido com o de uma foice, por isso o nome falciforme. Com a membrana alterada, as células se rompem com maior facilidade, causando anemia, crises intensas de dor, oclusão de vasos, dentre outras graves complicações. No Brasil, a condição hereditária da doença é mais comum em indivíduos afrodescendentes, devido à intensa miscigenação historicamente ocorrida no país, no entanto, pode ser observada também em pessoas brancas ou pardas. No mundo, a condição hereditária afeta, aproximadamente, 300 a 400 mil.
No Brasil, em 2001, o Ministério da Saúde instituiu o Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), a fim de ampliar o acesso da população ao diagnóstico precoce de doenças hereditárias e congênitas. A doença falciforme é uma das patologias avaliadas pelo exame, conhecido como Teste do Pezinho. Dados colhidos indicam que, a cada mil nascidos vivos no país, um tem doença falciforme, o que significa que cerca de 3 mil crianças nascem com a doença, por ano.
Dentre as inúmeras complicações da anemia falciforme existem as lesões, feridas na pele, que são ocasionadas por fatores externos ou, muitas vezes, de forma espontânea devido à diminuição do oxigênio local nos tecidos da pele e o complexo fenômeno da vaso oclusão, comuns em pessoas de 10 a 50 anos, com predomínio em indivíduos do sexo masculino, que devem ser tratados precocemente.
O dia 19 de junho é marcado pelo Dia Mundial de Conscientização da Doença Falciforme. Falar do tema é importante porque a doença tende a comprometer a qualidade de vida dos pacientes, gerando consequências emocionais, sociais e profissionais por ser uma patologia crônica e resistente a terapias tradicionais para obter a cicatrização.
As feridas são dolorosas e podem ser únicas ou múltiplas, manifestando-se em locais com menor tecido subcutâneo e pele fina, como a região maleolar (onde estão as proeminências ósseas) interna ou externa, tibial, tendão de Aquiles ou, até mesmo, no dorso do pé.
Como prevenir?
A prevenção envolve manter a pele sempre íntegra e cuidada, reduzindo os riscos a que o paciente se expõe por conta de fatores externos, que podem desencadeadores da lesão. Dentre as ações preventivas, destacamos:
- Uso de repelentes e inseticidas para diminuir a possibilidade de lesões por picadas de insetos, evitando-se, também, pruridos (coceiras), que são pontos de partida para o aparecimento das lesões
- Uso de sapatos e/ou tênis com cano alto e meias de algodão macias que ajudam a evitar a ocorrência de lesões nas regiões dos pés
- Hidratação frequente da pele para evitar o ressecamento, responsável pelas “coceiras”
- Avaliação frequente do aspecto da pele, principalmente das pernas, nas regiões maleolares
- Busca por equipe médica e/ou de enfermagem em caso do surgimento de uma pequena lesão, iniciando o tratamento imediatamente, após a avaliação do problema
Como tratar?
O tratamento da pele lesionada por feridas, de pacientes portadores da anemia falciforme, é complexo e de cicatrização demorada. O sucesso das terapias utilizadas depende de uma sequência de eventos biológicos e celulares. Dentre as principais ações está o apoio de equipe especializada no manejo de feridas, além do acesso a orientações de cuidados básicos para o autocuidado, com o objetivo de manter a limpeza das lesões, cuidados de antissepsia e a troca do curativo com regularidade.
Os curativos podem ser feitos, prescritos e orientados por profissionais de enfermagem especializados e têm como princípio promover a limpeza e o controle da carga microbiana para evitar infecções, além do controle da secreção e garantia de proteção da área e das bordas da ferida.
Embora o paciente com anemia falciforme tenha condições fisiológicas que limitam o processo de cicatrização, é importante elaborar estratégias de cuidados que estimulem a epitelização (formação da pele), o tecido de granulação (tecido fibroso que se forma durante o processo de cicatrização) e a vascularização local, garantindo condições adequadas para o fechamento das lesões e controle dos fatores envolvidos, ampliando a qualidade de vida do paciente.
É essencial que a população saiba mais sobre o tema, seja orientada e tenha acesso a informações consistentes para facilitar o convívio, garantir os direitos e o melhor cuidado ao portador da doença falciforme, seja por meio da detecção precoce das complicações da doença e conhecimento sobre os divulgação dos principais cuidados, seja por meio da educação sobre manejo de sinais e sintomas.
Autoras
Miriam Nascimento de Souza
Enfermeira Especialista em Onco-Hematologia e responsável pelo ambulatório de anemia falciforme na Clínica BIO SANA'S
Denise Borges Rego Minari
Enfermeira Especialista em Oncologia