Fevereiro Laranja – Mês de Combate a Leucemia
O mês de fevereiro é considerado o Mês de Combate a Leucemia, “Fevereiro Laranja”
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), neste ano, serão diagnosticados mais de 10 mil casos novos de leucemia. Atualmente, essa doença ocupa a 9ª posição nos tipos de câncer mais comuns em homens e a 11ª em mulheres.
As Leucemias se iniciam normalmente dentro da medula óssea (tutano dos ossos, onde é produzida a maioria das células sanguíneas).
As Leucemias são divididas em agudas e crônicas e podem ser mielóide ou linfóide, de acordo com a rapidez da proliferação celular e do tipo de célula acometida, respectivamente.
Normalmente, as leucemias agudas são mais graves e necessitam intervenção da equipe de hematologia o mais breve possível e em centros especializados.
Os principais sintomas da leucemia aguda decorrem do acúmulo de células doentes na medula óssea e às vezes no sangue. A diminuição dos glóbulos vermelhos ocasiona anemia, que provoca fadiga, falta de ar, palpitação e dor de cabeça. A redução dos glóbulos brancos saudáveis provoca baixa da imunidade, deixando o organismo mais sujeito a infecções, muitas vezes graves ou recorrentes. O aumento dos glóbulos brancos doentes pode favorecer a chamada síndrome de lise tumoral, onde o paciente pode apresentar aumento da viscosidade sanguínea com tonturas e até mesmo insuficiência renal. A diminuição das plaquetas ocasiona sangramentos, sendo os mais comuns das gengivas e pelo nariz e aparecimento de manchas roxas na pele.
As crianças e adultos jovens são mais acometidos de LLA (Leucemia Linfóide aguda) e os mais idosos são mais frequentemente acometidos de LLC (Leucemia Linfoide Crônica). Os adultos mais frequentemente apresentam LMA e LMC (Leucemia Mieloide Aguda e Leucemia Mieloide Crônica).
Quanto à origem, podemos citar: a exposição ao Benzeno, o formaldeído, a agrotóxicos e solventes podem provocar a doença; se a pessoa já foi submetida à quimioterapia ou radioterapia; quando existem casos na família; ter alguma síndrome genética, como a síndrome de Down, pode causar predisposição.
Algumas infecções virais também podem ser fatores de risco para o desenvolvimento de leucemia.
Os tratamentos são variados. Para as leucemias agudas são as quimioterapias mais agressivas, aquelas que aplicamos na veia, que normalmente levam à queda de cabelo e sintomas mais intensos. Já as leucemias crônicas, na maioria das vezes são tratadas com medicamento via oral.
Nas próximas semanas os médicos da equipe BIO SANA´S de Hematologia e TMO (transplante de medula óssea) irão escrever sobre algumas destas doenças e alguns pacientes que apresentaram estas doenças irão escrever sobre as suas experiências durante o tratamento.
Hoje falaremos um pouco sobre LLA (Leucemia Linfoide Aguda )
LEUCEMIA LINFOIDE AGUDA
A medula óssea é o local do organismo onde ocorre a produção de todas as células do sangue: as hemácias, que tem como uma das principais funções o transporte de oxigênio para os tecidos, os glóbulos brancos responsáveis pela defesa do corpo e as plaquetas que tem papel de grande relevância na coagulação. A leucemia é um tipo de câncer que acomete a medula óssea e pode ser classificada de acordo com a linhagem de células acometida.
A leucemia linfoide aguda (LLA) é a neoplasia da medula óssea onde ocorre proliferação desregulada de linfócitos imaturos clonais chamados de linfoblastos. Essa patologia é a doença maligna mais comum na infância sendo menos frequente na idade adulta.
O paciente com LLA, na maioria das vezes, apresenta sintomas relacionados à anemia como palidez, fraqueza, sonolência excessiva e tontura. Uma parcela menor dos doentes pode ter quadro de febre, sudorese noturna, dores articulares e sangramentos. Algumas vezes as manifestações podem ser na forma de gânglios em diferentes regiões do corpo que são chamadas popularmente de ínguas.
Na maioria dos casos, as células da leucemia linfóide aguda invadem o sangue de forma rápida e podem se espalhar para outras partes do organismo como os gânglios linfáticos, sistema nervoso central, testículo, fígado e baço. Ao contrário de outros tipos de câncer, a disseminação da LLA não indica que a doença se encontra em estágio avançado, uma vez que por ser uma doença do sangue as células malignas naturalmente percorrem todo o corpo.
A simples realização de um hemograma pode diagnosticar a leucemia linfóide aguda, porém, para confirmação e melhor classificação da doença é necessária a complementação com aspirado de medula óssea, exames moleculares e estudo genético.
A LLA é uma doença que exige tratamento imediato assim que diagnosticada. O objetivo inicial do tratamento é a indução da remissão, ou seja, a eliminação das células leucêmicas que só é possível com a realização de quimioterapia. Em alguns pacientes é necessária ainda a realização de radioterapia. Alcançada a remissão o paciente ainda é submetido a outros tratamentos que visam consolidar a resposta obtida com a primeira terapia e manter a medula óssea com atividade normal, sem que haja produção de células malignas. Na infância, o tratamento é curativo na maior parte dos casos.
A quimioterapia utilizada na LLA é agressiva sendo obrigatória a realização de parte do tratamento em regime hospitalar com o paciente internado. A transfusão de hemácias e plaquetas é necessária em uma parcela considerável dos pacientes durante o regime quimioterápico. As principais complicações relacionadas ao tratamento são infecções e sangramentos.
O transplante de medula óssea (TMO) ou transplante de células tronco hematopoéticas (TCTH), tem papel muito importante no tratamento da leucemia linfoide aguda e revolucionou a evolução dos pacientes aumentando os índices de cura da doença.
Pacientes que apresentem ao diagnóstico LLA classificada como de alto risco se beneficiam da realização do TMO logo após a remissão da doença. Pacientes considerados de baixo risco ao diagnóstico podem ser submetidos ao transplante apenas se ocorrer recidiva da doença (retorno da doença após o término).
Nos casos de leucemia linfoide aguda, realiza-se o transplante de medula óssea alogênico, onde a medula óssea do paciente (receptor) é substituída por uma medula óssea saudável de outro indivíduo (doador). Para isso é necessário que o doador e o receptor sejam biologicamente compatíveis.
Após o tratamento da doença é de fundamental importância que os pacientes sigam acompanhamento médico regular, realizando exames laboratoriais e de medula óssea.
Texto elaborado pelo Dr. Roberto Luiz da Silva CRM 69825, médico hematologista pela USP e coordenador da equipe de transplante de medula óssea da Bio Sana`s S/S e médico Hematologista e de transplante de células tronco Hematopoética da rede DASA.
Referências bibliográficas:
- Tratado de hematologia – 1 edição – 2013
- Peterson L, Bloomfield CD, Döhner H, Niemeyer C, Godley L. Myeloid Neoplasms with Germline Predisposition. In: World Health Organization Classification of Tumours of Haematopoietic and Lymphoid Tissues (update to 4th Edition)
- Diretrizes da Sociedade Brasileira de transplante de medula óssea 2021
- Hematology – Basic Principles and Practice – Ronaldo Hoffman – second edition