Paciente dá o seu depoimento sobre o sucesso do tratamento da Leucemia Mielóide Aguda (LMA)
Olá, meu nome é Betina, o ano era 2005. Carnaval, eu tinha 26 anos. Eu sempre gostei muito de uma festa e neste ano resolvi desfilar na avenida. Saí toda feliz, fantasiada e com um negócio gigante na cabeça. No meio do desfile eu comecei a achar que ia desmaiar, eu nunca tinha tido aquela sensação. Não tinha ar no mundo!! Eu estava cansada, o negócio na minha cabeça pesava e estava me apertando, a cabeça doía. Apesar de tudo, desfilei feliz e empolgada, mas confesso que dei graças a Deus quando terminou! Na dispersão, todos os meus amigos foram para o lado onde os ônibus estavam estacionados. Eu fui para o lado contrário onde não tinha ninguém e eu esperava encontrar ar. Parei um pouco, esperei para ver se encontrava, mas nada. Não tinha mesmo ar no mundo. Então comprei uma água e fui procurar meus amigos para ir embora.
Depois disso, não sei mais a ordem dos fatos que foram me dando sinais de que alguma coisa não estava certa... só sei que um dia meu pai me pediu ajuda para trocar dois computadores de lugar. Quando terminei esta tarefa eu estava exausta. Não conseguia fazer mais nada, sentia um cansaço profundo. Uma outra noite, num bar, um copo quebrou perto do meu pé, e fez um pequeno - pequeno mesmo - corte no meu dedão. Passei a noite inteira sentada com o pé pra cima. Simplesmente não parava de sangrar. E, por fim, notei que eu estava a uns 10 dias com a impressão de que eu ficaria gripada, mas nada acontecia. Não tinha o nariz entupido ou dor de garganta, nada, só a sensação de gripe.
Foi aí que eu comecei a achar que tinha alguma coisa errada... liguei para uma prima, médica, e pedi um hemograma, eu suspeitava de uma anemia. No dia que eu fiz o exame, era um sábado, o laboratório me ligou pedindo o telefone da minha médica. À noite minha prima foi à minha casa e disse que tinha mostrado meus exames para uma amiga hematologista que tinha dito para eu estar no hospital no dia seguinte, às 7h, porque eu teria que ser internada imediatamente.
Fui. Eu não sabia o que eu tinha nem quanto tempo iria ficar. Era LMA. O tratamento teve momentos bem difíceis, mas ali eu era a paciente, e o paciente é aquele que espera. Então, enquanto eu esperava o tratamento fazer efeito e meu corpo reagir, me concentrei em tornar tudo ( o tratamento, a estadia prolongada no hospital, a indisposição e até as dores) o mais leve possível. Ocupei meu tempo com quebra-cabeças, tricô, livros, filmes e muitas risadas também! De algumas coisas que eu falei sob o efeito da morfina eu dou risada até hoje!!
Neste processo todo eu entendi que se uma situação é difícil por si só, o melhor que podemos fazer é encará-la com resiliência, manter a alegria e o bom humor, tratar a todos com respeito e carinho e assim tirar da situação o peso que é possível tirar.
Eu entendo que todo este período de tratamento foi uma oportunidade incrível para eu perceber o quanto minha família e meus amigos me amam, eu recebi muito carinho. É claro que eu sabia que minha família me ama, mas receber este amor com a intensidade que eu recebi não é algo que acontece no dia a dia.
Hoje eu olho para este período da minha vida sem qualquer mágoa ou ressentimento. Pelo contrário, eu olho com acolhimento. Esta foi uma vivência que faz parte da minha história!