No Dia Internacional da Mulher, compartilhamos um depoimento emocionante de superação que representa a força e determinação feminina
Sou Carolina da Mota Cerqueira Tonioli, 33 anos, Fisioterapeuta e “Besteirologista”.
Há 4 anos e 11 meses minha vida tomou um grande solavanco. E que solavanco!
Em outubro de 2011 fiz meus exames de rotina, cujos resultados não apresentaram alteração. Naquele mês, completava meu primeiro ano de casamento, estava trabalhando numa clínica de fisioterapia e tudo ia bem. Em janeiro, comecei a sentir incômodo estomacal, que atribuí à sequência de festividades de final de ano, até que um dia meus olhos começaram a ficar amarelados (ictéricos).
Quando finalmente resolvi procurar ajuda médica, fui internada e submetida a uma cirurgia emergencial para biopsia de uma “massa” na região próxima à cabeça do pâncreas. A tal “massa” se chamava Sarcoma Granulocítico, tumor formado por células da medula óssea devido a uma Leucemia. Descobri que Leucemia tem nome e sobrenome; a minha, Leucemia Mieloide Aguda (LMA). Lembro-me de estar no consultório médico e ouvir “Sarcoma blábláblá”, “Leucemia blábláblá”, Vai cair seu cabelo blábláblá”, “Vamos internar hoje”.
Brinco que a quimioterapia “queimou” muitas lembranças, tanto boas como más, mas algumas nunca esquecerei. Dentre elas, a de entrar pela primeira vez no quarto onde ficaria internada por um período que não fazia ideia de quão longo seria: em minha mente, parecia ser um local escuro e gelado. Os primeiros dias foram de incertezas, dúvidas, medos, sentimentos inevitáveis diante de tal diagnóstico.
Muitos me perguntam qual foi o momento mais difícil que enfrentei. “Foi o diagnóstico?”. Não, não foi. Nunca tive medo da morte, pois minha fé em Deus sempre me sustentou e me fortaleceu. Entretanto, era difícil acreditar que aquilo estava acontecendo comigo. Passados uns 15 dias do início da quimioterapia, um dia fui tomar banho e fui tomada por algo inexplicável, uma dor, uma tristeza, um desespero. Meu cabelo estava caindo, meus longos cachos dourados sendo “tirados” de mim – num ato insano, prendi em coque o cabelo cujo comprimento chegava quase na cintura e assim fiquei por uma semana, sem pentear, sem lavar, sem me olhar no espelho. Fechei-me totalmente para o mundo, não queria falar com ninguém, não queria contato com o mundo exterior, estava vivendo meu momento de “luto”.
Foi então, após muita insistência da equipe multidisciplinar, que tomei a decisão mais difícil da minha vida: raspar meu cabelo. Muito choro, sem dúvida, mas senti um alívio quando me olhei no espelho e me vi carequinha. Todo momento ruim tem seu lado positivo, mesmo quando achamos que não tem como extrair algo bom; meu momento bom foi ver o amor e o carinho do meu esposo ao passar a mão na minha careca e com uma simples frase transformar meu choro em riso “para mim, você é linda com ou sem cabelo, te amo da mesma maneira”.
Imagine o que significa estar internada para uma pessoa ansiosa e “ligada no 220”! O artesanato, que já era um hobby, se tornou meu grande amigo, meu companheiro de muitas horas, além da internet e dos livros, que também ajudaram muito a superar esse processo de isolamento. “É uma fase”, dizia a mim mesma. A ansiedade? Continua, mas num nível mais aceitável, se é que se pode dizer isso (risos).
A doença faz você refletir e muito, afinal de contas o que mais temos é tempo para pensar. Em muitos momentos pensava o que faria depois de ter a tão sonhada alta. Incentivada por um dos meus médicos, decidi fazer pós-graduação em Fisioterapia Oncológica, mas ainda não havia me encontrado. Fiz então um curso para formação de Instrutores de Pilates e, aí sim, me encontrei! Desde então estou dando aulas. Mas e o artesanato? Continuo com meu hobby, sem dúvida.
E um projeto que havia sido abortado pelo diagnóstico da doença foi colocado em prática: hoje sou a Dra. Forfa, uma Palhaça Besteirologista da ONG Presente de Alegria! Sinto-me plenamente realizada levando amor ao próximo que está acamado como um dia eu estive.
Como já diz o velho ditado “há males que vêm para o bem”: passados três anos e cinco meses do transplante, tive a oportunidade de conhecer uma pessoa mais do que especial. Um dia, ele foi abordado por funcionários de uma instituição de ensino superior que lhe apresentaram a campanha “Seja um doador de medula óssea”. Ele prontamente aceitou e se tornou um doador, o MEU doador! Que dia memorável foi conhecê-lo, meu irmão de sangue, meu irmão sangue bom.
Uma frase que não é de minha autoria, mas sim de um companheiro de tratamento resume tudo: “FÉ, FORÇA E ALEGRIA SEMPRE”. Independente de religião, creia. Crer sem esforço não te levará à cura, então se esforce e viva o momento com alegria. Alegria é uma escolha, escolha a alegria independente das circunstâncias. E uma última dica: faça TUDO que os seus médicos orientarem, eles, junto com você, são os responsáveis pela sua cura.
Seja forte e corajoso! Não se apavore, nem se desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar". Josué 1:9