Mieloma Múltiplo por Dra. Manuella de Souza Sampaio Almeida*
O Mieloma Múltiplo (MM) é um câncer da medula óssea e representa 1% das neoplasias. Ocorre um aumento na proliferação dos plasmócitos, que são células responsáveis pela produção de nossos anticorpos de defesa (imunoglobulinas). No Mieloma Múltiplo, os plasmócitos clonais (“doentes”) produzem anticorpos que não funcionam corretamente. Portanto, a maioria dos pacientes apresenta uma imunoglobulina completa ou um fragmento dela produzida pelos plasmócitos clonais, denominada PROTEINA OU COMPONENTE MONOCLONAL. Esta proteína monoclonal aparece no sangue e/ou na urina, e pode ser denominada IgG, IgA, IgM, cadeia leve kappa ou lambda.
Se esta proteína monoclonal for encontrada em pequena quantidade, a medula óssea tiver menos de 10% de plasmócitos e não forem evidenciadas lesões em órgãos relacionados ao Mieloma Múltiplo, o paciente é diagnosticado com “Gamopatia monoclonal de significado indeterminado” (GMSI). Nesta situação, será realizado apenas acompanhamento clínico com exames laboratoriais específicos. A GMSI apresenta um risco de 1% ao ano de evolução para Mieloma Múltiplo. O exame laboratorial para identificar a proteína monoclonal é a eletroforese de proteínas e pode ser realizado no sangue e/ou na urina.
A idade mediana para o diagnóstico do MM é em torno de 60 a 65 anos. Apenas 5% dos pacientes têm menos de 40 anos ao diagnóstico. Por ser uma doença de crescimento lento na maioria dos casos, o MM pode ser descoberto numa fase inicial assintomática e sem necessidade de tratamento, ou numa fase mais avançada sintomática e com necessidade de quimioterapia.
Os sintomas mais frequentes são: cansaço, fadiga, dor óssea, principalmente nas costas, cefaleia, alterações na urina como “urina espumosa” ou redução da sua quantidade, infecções de repetição (como pneumonia ou sinusite).
Os exames laboratoriais que ajudam na investigação e no diagnóstico do MM são: hemograma completo, ureia, creatinina, cálcio sérico, eletroforese de proteínas séricas, dosagem das imunoglobulinas e avaliação da medula óssea (mielograma e biopsia de medula óssea). Os exames de imagem também são importantes para identificação das lesões ósseas, como radiografia do esqueleto, tomografia computadorizada e ressonância magnética.
O tratamento do MM é recomendado na fase sintomática e existem várias quimioterapias disponíveis como talidomida, bortezomibe e realização de altas doses de Melfalano seguida de transplante autólogo de medula óssea / transplante de células tronco hematopoieticas (TCTH) para pacientes sem comorbidades clínicas e com menos de 70 anos de idade.
Apesar de ser uma doença sem cura com os tratamentos disponíveis até o momento, vários estudos clínicos continuam em andamento para aumentar o tempo livre de doença e a sobrevida dos pacientes com o Mieloma Múltiplo. Recentemente, duas medicações foram aprovadas no Brasil para pacientes com MM recidivado/refratário: Carfilzomibe (inibidor do proteassoma) e Daratumumabe (anticorpo monoclonal anti-CD38), podendo ser utilizadas como monoterapia ou em associação com outras drogas.
*Médica hematologista da equipe de Transplante de Medula Óssea (TMO) da BIO SANA’S Serviços Médicos e IBCC – Instituto Brasileiro de Controle do Câncer
Referências:
- Hungria VTM, Maiolino A, Almeida MSS, Crusoé EQ. Distúrbios dos plasmócitos e doenças correlatas. In: Zago MA, Falcão RP e Pasquini R. Tratado de Hematologia. São Paulo: Editora Atheneu, 2013. Pag. 555 a 568.
- Almeida, MSS e Cruzoe, EQ. Discrasias de Plasmócitos. In: Baiocchi OCVG and Penna AMD. Guia de bolso de hematologia. 1ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2014. Pag. 171 a 182.